Nos eventos cívicos e militares, nas escolas, em reuniões públicas, o Hino Nacional e o Hino de Taubaté são tocados para oficializar a abertura dos trabalhos. Todos cantam, alguns conhecem parte das palavras e outros apenas permanecem em posição de respeito.
Taubaté das bandeiras - que ousaram
desbravar ínvias selvas, com glória.
Taubaté, cujos filhos não param,
sempre em marcha nas asas da História.
Taubaté das monções, na erradia
epopeia por rios e lapas,
qual titã a fazer geografia,
implantando fronteiras nos mapas!
A louvar-te, com ânsia,
tanjam todos os sinos.
Vens de longa distância,
vais a altos destinos.
Quando outrora o café, soberano,
todo em ouro, qual Midas, floria
alto nível o clã taubateano,
de riqueza, se alteando, atingia.
E tal é o poder, que, então, goza
(decantado, na época, em aulo)
que a cidade chegou, poderosa,
a se ombrear com a própria São Paulo!
A louvar-te, com ânsia,
tanjam todos os sinos.
Vens de longa distância,
vais a altos destinos.
E hoje, rica e industrial, o esplendor
a ostentar de moderna cidade,
tens no ensino tal vulto e labor
que és, inteira, uma só faculdade!
Mas, se em ti o progresso se espalma
e em concreto te elevas, heril,
és a mesma cidade com alma
que nasceu no alvorar do Brasil!
E você: sabe o significado e o contexto do hino municipal?
O historiador Paulo Camilher Florençano conta, no livro “O brasão e a bandeira de Taubaté”, que em 1972 o então prefeito Guido Miné lançou um concurso para a composição do hino municipal, porém, seu sucessor, Milton de Alvarenga Peixoto, mandou arquivar este processo e lançou uma comissão encarregada da letra.
A comissão foi dividida em duas, uma para escolha da letra, e outra, para a melodia.
Inicialmente, a comissão encarregada pela letra foi presidida pela advogada e ex-vereadora Judith Mazella Moura e contava com a participação de Lygia Fumagalli Ambrogi, Demétrio Ivahy Badaró, Péricles Nogueira Santos e Hamílton Lopes. Logo na primeira reunião, Judith e Péricles pediram demissão, pois pretendiam participar do concurso. A presidência passou para o professor Demétrio e foi incluído um professor de Pindamonhangaba, Alexandre Machado Salgado.
“É curioso que uma coisa tão simples, que poderia ser resolvida em alguns meses, com toda facilidade tenha se estendido por tanto tempo. Em final de 1975, três anos depois de aberto o primeiro processo objetivando concursos para o hino, ainda se redigiam portarias tentando compor grupos de trabalhos destinados a levar a efeito tais concursos”, analisa Paulo Camilher Florençano.
Essa demora perdurou. A comissão solicitou ao prefeito Milton de Alvarenga Peixoto a colaboração da Academia Paulista de Letras, para que fosse designado um grupo de três acadêmicos responsáveis pela escolha do hino entre os dez trabalhos que seriam selecionados preliminarmente.
Finalmente, em 1975 a comissão publicou os detalhes do concurso público para escolha da letra no jornal “A Voz do Vale do Paraíba”, na edição de 21 de novembro, com uma correção no dia seguinte.
Letra
O edital estabelecia a participação de brasileiros e estrangeiros domiciliados no país. Cada concorrente poderia enviar até três trabalhos, sob pseudônimo, em envelope lacrado. O poema tinha que cantar aspectos da história e vida de Taubaté em duas ou três estrofes, de quatro a oito versos, e estribilho.
Ao vencedor seria entregue um diploma de homenagem e uma medalha de ouro, e a letra passaria a pertencer à Prefeitura, com a consequente transferência dos direitos autorais.
O concurso foi disputado por 60 escritores, e o vitorioso foi o poeta Péricles Nogueira Santos, aquele que havia deixado a comissão.
O envelope contendo a identificação do autor da composição foi aberto em cerimônia no dia 6 de abril de 1976. Até então, a letra estava acompanhada apenas pelo pseudônimo do autor, “Arzão”.
Péricles era natural de Paraibuna (SP), onde nasceu em 1916, e formado na primeira turma de Ciências Jurídicas de Taubaté. Foi policial militar e chegou ao posto de tenente-coronel. Além disso, lecionou no Colégio Olegário de Barros e nas Faculdades de Serviço Social e de Ciências Jurídicas. Ocupou a cadeira 18 da Academia Taubateana de Letras e publicou seis livros. Faleceu em 2001.
Durante a cerimônia de abertura do envelope, o prefeito agradeceu a participação de todos os poetas. O presidente da comissão, Demétrio Ivahy, discorreu a respeito dos trabalhos, tanto os classificados quanto os desclassificados, e o Péricles Nogueira foi convidado a ler sua composição.
No dia seguinte, a letra foi encaminhada ao professor João Quintanilha, da comissão destinada à escolha da música, e aberta a segunda etapa do concurso.
Música
O edital do concurso para escolha da música foi publicado nos dias 18 e 29 de maio de 1976. Uma das regras do concurso para escolha da letra do hino estabelecia que a métrica dos versos das estrofes deveria ser igual, para facilitar a composição musical.
No entanto, nenhum dos participantes do concurso foi classificado.
É interessante observar que todas as músicas foram rejeitadas com alguns pareceres bastante expressivos de membros da comissão julgadora.
Com isso, extinguiu-se o mandato do prefeito Milton de Alvarenga Peixoto, sem que houvesse sido aprovada alguma música para o Hino de Taubaté.
(FLORENÇANO, Paulo Camilher. O brasão e a bandeira de Taubaté. 2ª edição ampliada com o Hino de Taubaté. Disponível no Arquivo Histórico de Taubaté)
Segundo Florençano, o prefeito seguinte, Waldomiro de Carvalho, convidou as corporações militares da região a participarem da composição, por intermédio de suas bandas.
As partituras chegaram em Taubaté em 6 de julho de 1977, com a música, harmonia e instrução do 1º tenente José Bráulio de Souza, regente do 5º Batalhão de Infantaria de Lorena.
Tais partituras foram remetidas à Escola de Música Maestro Fêgo Camargo para análise. Porém, o assunto ficou morto por cerca de três anos e só foi novamente cuidado a partir de 29 de setembro de 1980, quando, pela indicação 3.861/80, o vereador Wilson Fim encarecia ao Executivo a necessidade de nomear uma nova comissão que cuidasse de criar o Hino. Essa indicação, protocolada na Prefeitura em 6 de outubro de 1980, fez com que o Executivo cobrasse da professora Helena Oliveira Freire, então diretora da Escola, o parecer sobre as partituras. (FLORENÇANO)
Coube ao prefeito seguinte, José Bernardo Ortiz, cobrar do diretor do Departamento de Educação e Cultura, professor Edu de Mattos Ortiz, a conclusão definitiva do processo.
Na avaliação de José Bernardo, a letra de Péricles tinha uma lacuna a ser preenchida, uma terceira estrofe a ser incluída entre duas outras, sobre o ciclo do café, o que ocorreu mais tarde.
Assim, em 1985 foi declarada como escolhida a partitura de autoria do tenente José Bráulio de Souza, e a população pôde conhecer a obra completa em 5 de julho daquele ano, durante a solenidade de abertura dos II Jogos Regionais, conforme noticiado no “Diário de Taubaté” naquele dia.
Hoje, na solenidade de abertura dos II Jogos Regionais do Vale do Paraíba e Litoral Norte, será apresentado ao público, pela primeira vez, o Hino de Taubaté.
…
O próximo fato se dá em outubro de 1980, quando uma comissão de professores da Escola de Música e Artes Plásticas Maestro Fêgo Camargo concluiu que uma das composições enviadas pelo Comando do 5º R. I. [Regimento de Infantaria] de Lorena poderia ser aproveitada, mas o processo ficou parado até 1983 nesse ponto, e foi quando o diretor da Escola de Música enviou o processo para o Departamento de Educação e Cultura [DEC], para novos estudos.
Em março de 1985, o diretor do DEC, professor Edu Ortiz, resolveu pedir parecer da Comissão Municipal de Música, oportunidade em que foi aprovada a antiga indicação da partitura do tenente José Bráulio de Souza, de Lorena. E o hino só ficou pronto há poucas semanas, quando o autor da letra, a pedido do prefeito, acrescentou mais uma nova estrofe à inicial.”
(TAUBATÉ, Diário de. Hoje nos jogos a execução do Hino de Taubaté. 5 jul. 1985. Disponível no Arquivo Histórico de Taubaté)
José Bráulio de Souza era natural de Lavras (MG), onde nasceu em 19 de março de 1925. Serviu ao Exército nas cidades do Rio de Janeiro, Campinas, Resende, São Paulo e Lorena. Foi maestro da Banda Militar e compôs mais de 300 músicas, entre elas, o Hino de Taubaté. Regeu vários corais, entre eles, o Maria de Nazaré e o Municipal de Lorena, além de ser maestro regente da Banda Mamede de Campos. Casado com Maria de Lourdes Souza, tinha 17 filhos. Morreu em 29 de abril de 1996.
Arranjo
Durante sua gestão, o prefeito José Bernardo Ortiz solicitou a um grupo de professores da Escola de Música e Artes a contratação de um compositor que fizesse um arranjo específico para banda marcial. O arranjo foi concluído em agosto de 1994 pelo maestro e compositor Tibor Reisner.
Análise
Confira agora um estudo sobre a letra do Hino de Taubaté:
1ª estrofe
Taubaté das bandeiras - que ousaram
desbravar ínvias selvas, com glória.
Taubaté, cujos filhos não param,
sempre em marcha nas asas da história.
Neste trecho, o poeta fala sobre os sertanistas que partiram de Taubaté em direção às selvas que ainda não haviam sido exploradas, mas, ainda assim, conseguiram atingir o objetivo e alcançaram a glória que foram buscar. Os filhos de Taubaté são elogiados por sua constante busca pelo progresso, sempre avançando e contribuindo para a história da cidade.
2ª estrofe
Taubaté das moções, na erradia
epopeia por rios e lapas,
qual titã a fazer geografia,
implantando fronteiras nos mapas!
Esse trecho destaca a importância das moções, expedições organizadas na época colonial que exploravam novas rotas e caminhos por rios e áreas naturais. A cidade é comparada a um titã, simbolizando sua grandiosidade, e seu povo é reconhecido como pioneiro na exploração e mapeamento de novas fronteiras.
Refrão
A louvar-te, com ânsia,
tanjam todos os sinos...
Vens de longa distância,
vais a altos destinos.
A palavra ânsia é usada no sentido de desejo intenso, assim, a frase tem o significado de exaltar Taubaté de forma grandiosa. O toque dos sinos é símbolo de celebração e reconhecimento da cidade, em comemoração ao importante passado e ao brilhante futuro.
3ª estrofe
Quando outrora o café, soberano,
todo em ouro, qual Midas, floria
alto nível o clã taubateano,
de riqueza, se alteando, atingia.
Uma referência ao período de cultivo do café no Vale do Paraíba, que era tão abundante que se comparava ao lendário Rei Midas, cujo toque transformava tudo em ouro. Assim, muitas das famílias taubateanas alcançaram prosperidade graças à economia do café.
4ª estrofe
E tal é o poder, que então goza
(decantado, na época, em aulo)
que a cidade chegou poderosa,
a se ombrear com a própria São Paulo!
Ainda uma referência à riqueza gerada durante o período cafeeiro, algo que era cantado e celebrado em músicas e poemas em reconhecimento à importância econômica, social e política que fez de Taubaté uma cidade tão próspera quanto à capital do estado.
Refrão
5ª estrofe
E hoje, rica e industrial, o esplendor
a ostentar de moderna cidade,
tens no ensino tal vulto e labor
que és, inteira, uma só faculdade!
A estrofe destaca o desenvolvimento industrial e econômico e o reconhecimento de Taubaté como uma cidade industrializada. Também é elogiada pela qualidade do ensino e classificada como uma cidade inteira dedicada à busca do conhecimento.
6ª estrofe
Mas, sem tí o progresso se espalma
e em concreto te elevas, heril,
és a mesma cidade com alma
que nasceu no alvorar do Brasil!
Refrão
O poeta apresenta Taubaté como uma cidade enraizada em sua história e tradição, mesmo com o crescimento urbano e a expansão do concreto, e a elogia por manter sua identidade desde os primórdios do Brasil.
Ao lado da Bandeira e do Brasão de Armas, o Hino é um símbolo municipal, de acordo com a Lei 2.253, de 1987.